O óbvio - Maria Fernanda Medina Guido

O óbvio

Um dos textos do que mais gosto do escritor Max Gehringer está no livro “Clássicos do Mundo Corporativo” e chama-se “A compreensão do óbvio”. Nesse texto, Max conta sobre quando ele trabalhava numa empresa líder do ramo de batatinhas fritas, com mais de 70% do mercado e que teve suas vendas abaladas quando um concorrente escreveu no pacote da sua batata “não contém colesterol”, o que era um tanto óbvio, pois batatas são fritas em óleo vegetal e óleo vegetal não contém colesterol, apenas gordura de origem animal. Pois bem, o que era óbvio para o Max, não parecia ser para milhares de pessoas, que passaram a comprar a batata do concorrente porque ela não continha colesterol. A solução foi simples, colocar no pacotinho da batatinha da empresa em que Max trabalhava “totalmente sem colesterol” e as vendas voltaram ao normal. E a lição de casa foi aprendida: para evitar mal entendidos, melhor falar o óbvio, mesmo que lhe pareça uma verdade que todo mundo já está cansado de ouvir.

Se falássemos o que nos parece tão óbvio, com certeza muitos relacionamentos seriam menos desgastantes, porque na prática é exatamente isso que acontece, principalmente entre homens e mulheres. Quando nos chateamos com alguma atitude, ao invés de falar o que não gostamos, ficamos lá com um bico gigante esperando que o outro entenda o que aquele bico representa. A não ser que a pisada na bola tenha sido muito grande ou num prazo curto de tempo, a maioria das pessoas não entende onde errou. Claro que existem os que se fazem de “desentendidos”, mas a grande maioria não entende mesmo.

Aprendi isso a duras penas. Sou uma pessoa que não consegue disfarçar muito o que está sentindo, sempre fui assim. Porém, quando ficava irritada em algumas situações, não falava para a pessoa que havia me tirado do sério o que havia causado isso até ela me procurasse, pois para mim era muito óbvio, estava estampado na minha cara o motivo, não era preciso falar. E é. Quantas vezes ouvi “eu sei que você está brava, só não sei por que.” Entendi isso depois de discutir muitas vezes em vão. E a partir do momento que entendi que o óbvio nem sempre é tão óbvio, me esforço para não ser mais assim. Tento falar. E passo sempre que cabe, esse conselho adiante… às vezes ouço meus pacientes reclamarem que se sentem como professores de jardim de infância, que precisam repetir várias vezes o que pode ou não ser feito ao outro, mas perceberam que isso funciona. Somos diferentes uns dos outros em muitos aspectos, em relação a nossa compreensão de mundo, nossos valores, nossas vivências… todo esse conjunto nos tornam muito singular o que definitivamente faz com que o que seja óbvio para você não seja para o seu melhor amigo, namorado, mãe. Assim, para evitar maiores prejuízos, por mais que a maioria saiba que batatinhas fritas não contêm colesterol, melhor estampar no pacote, vai que alguém não saiba…

Fonte de referência:

GEHRINGER, Max. Clássicos do Mundo Corporativo. Editora Globo, São Paulo,2008. P.45-46

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