Carência - Maria Fernanda Medina Guido

Carência

Estamos na semana do dia dos namorados, a data que atormenta milhares de solteiros se aproxima. Quem está sozinho inevitavelmente sente o peso de sua escolha ou condição. Quem está num relacionamento, muitas vezes capenga, estufa o peito, respira aliviado e posta as mais lindas declarações de amor nas redes sociais ainda que secretamente pense “acho que era melhor estar solteiro”. Muitos adiam o fim irremediável para outra semana, afinal seria muita canalhice terminar faltando 06 dias para o dia 12/6. E esse adiamento persiste, semana após semana, desculpa atrás de desculpa, até que mais um longo ano se passa. Por que? Por conta de carência, que nos faz aceitar migalhas e repetir mentalmente a mais horrorosa das frases: “ruim com ele (a), pior sem ele (a)”.

Apesar de muitas mudanças, das mulheres terem conquistado seu papel no mercado de trabalho, de não precisarem mais se submeter aos seus companheiros, de se tornarem muito mais independentes e se permitirem viver situações nunca antes imaginadas por suas avós e mães, elas continuam sendo bombardeadas desde pequenas pela mídia, por suas famílias e amigos, ouvindo incessantemente que precisam se casar, constituir uma família, ter filhos. Mesmo que muitas nem desejem muito essa vida. E quanto mais o tempo passa, maior a cobrança, o que faz com que muitas optem por relacionamentos fracassados para evitar a falação alheia.

Da mesma forma que não se deve ir ao supermercado fazer compras quando está com fome, no amor acontece igual. Quando uma pessoa se sente muito carente é comum embarcar em relacionamentos confusos, pois buscará no outro a solução para o seu vazio. Algumas pessoas por se sentirem assim, doam intensamente seu amor ao companheiro, oferecendo toda espécie de carinho, vivendo em função do outro. O companheiro vem em primeiro lugar, e ela abre mão de seus amigos, trabalho, família, filhos, simplesmente para satisfazê-lo. Pessoas carentes costumam fazer tudo em prol do outro e nem sempre se atentam ao fato de que a troca, tão importante numa relação, não ocorre.

Essa lógica distorcida do amor, onde se acredita que quanto mais se doar ao seu amado, mais ele lhe amará é motivada pela baixa autoestima, que faz as pessoas acreditarem que pior seria se não tivessem o outro. Com medo da perda a pessoa carente muitas vezes se sujeita ao menosprezo, descaso, traições e até maus-tratos físicos e psicológicos. Falta-lhe coragem para romper com a dependência. O “apaixonado incondicional” dispõe-se ao outro até que este se canse e tome a iniciativa de abandonar a relação, já que o parceiro sente que o carente dificilmente colocará um fim nela.

Para evitar cair nas teias da carência é importante se conhecer bem, cuidar de sua autoestima, ter claro o que quer para a sua vida. Somente dessa forma poderá viver um relacionamento sadio. Entender o que quer e precisa de fato faz com que a busca seja mais equilibrada, que se procure um relacionamento que promova crescimento a ambos.

Numa relação saudável a reciprocidade deve ser regra. Ou seja, se o outro é tratado com respeito, carinho e atenção você deverá ser tratado da mesma forma. Se faltar algo que lhe é importante é preciso questionar o peso do que falta, pois só respeitando quem você é e o que quer, não despejando seus anseios e angústias no outro e exigindo que o relacionamento seja de fato uma via de mão dupla onde mesmo com altos e baixos o saldo seja positivo é que conseguirá encontrar o caminho para uma parceria mais feliz.

E para os que estão solteiros e buscam alguém, não desanimem. Quem sabe a vida não lhe reservou uma surpresa para essa semana ainda? Eu conheci o amor da minha vida num dia dos namorados depois bater muito a cabeça e já ouvi muitas histórias assim como a minha, quem sabe 2016 não será o seu ano?! Não desista!

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