Mais ou menos - Maria Fernanda Medina Guido

Mais ou menos

Semana passada escrevi o texto “Porque nos sentimos tão em falta” que falava um pouquinho sobre tudo que nós, mulheres, fomos desde muito pequenas condicionadas a acreditar e o quanto isso, na vida adulta, pesa, esgota. Se você não leu o texto, clique aqui. O fato é que este mesmo condicionamento geralmente traz mais danos além do fato de desfilarmos pelas ruas feito zumbis maquiadas. Muitas vezes nós realmente acreditamos que merecemos o que estão nos oferecendo, embora pareça tão pouco.

Ao crescer internalizando que independente do esforço você ainda não será o bastante e estará sempre em falta com tudo e todos, é muito provável que sua autoestima sofra avarias. É muito provável que você olhe para si mesma e realmente acredite que ainda falta um bocado para ser igual a ciclana que a essa hora, em pleno sábado, já correu 42 km, tomou seu café da manhã balanceado e está fazendo trabalho voluntário, que quando aparece em sua vida um cara que na verdade não se encaixa muito ao que você esperava de um parceiro, ou quando seu relacionamento tomou um rumo que definitivamente não era o que você queria, quando um amigo parece só estar por perto quando precisa desabafar ou ainda quando seu chefe parece não perceber que trabalhar nas condições oferecidas esgota, você muito provavelmente aceita, porque afinal de contas, quem é você, para reclamar do que vem sendo oferecido?

E assim passamos nossa vida, ao lado de pessoas mais ou menos, em relacionamentos mais ou menos, num trabalho mais ou menos, fazendo careta e levantando os ombros: “é a vida, a vizinha da minha prima vive muito pior.” Nos nivelando por baixo, onde o parceiro que não agride fisicamente ou psicologicamente é príncipe encantado, onde o pai que topa cuidar do próprio filho enquanto você toma o seu banho é o pai para o seus filhos que você sempre sonhou, onde o emprego que te faz trabalhar 14h/dia mas paga certinho seu salário é sensacional, onde a amiga que nunca se interessou por seus conflitos é apenas distraída.

Veja bem, não estou querendo dizer que existem vidas, relacionamentos e empregos perfeitos porque infelizmente isso também foi criado para nos aprisionar. Estou falando do seu “perfeito”, que obviamente não é o meu, nem de ninguém. No seu “perfeito” alguma coisa que está rolando em sua vida faz sentido? No seu “perfeito” seu marido era tão autoritário, sua profissão tão chata e sua rede de apoio tão despreocupada com seu bem estar? É só isso que proponho que você pense. Que limites podem estar faltando para que as pessoas ao redor entendam o que você de fato quer, precisa? Que pequenas mudanças podemos fazer para que consigamos respirar um pouquinho mais aliviada? Porque não precisa ser macro, pode claro, mas muitas vezes pequenas mudanças em nossa postura já resolvem e muito.

Tente pensar no tanto de coisas aí que você vem aceitando por acreditar que mereça e se possível, inverta a ordem, pense primeiro no quanto você merece e lute por isso.

 

Um ótimo sábado! <3

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