A arrogância sutil - Maria Fernanda Medina Guido

A arrogância sutil

Se pensarmos na definição da palavra arrogância, no que é ser arrogante, provavelmente a imagem que virá em nossas cabeças será de uma pessoa supostamente “superior” destratando alguém teoricamente inferior, seja socialmente, financeiramente, fisicamente. Geralmente definimos um ato de arrogância assim, como um destratar. No entanto, a arrogância pode ser muito mais sutil que isso. A arrogância aparece em nossos julgamentos, aparece quando achamos que sabemos o que é o melhor para o outro, quando acreditamos que uma pessoa não está levando a vida dela da maneira como deveria, quando um conhecido não está vivendo de acordo com o que consideramos certo. Essa é a forma de arrogância mais comum e presente diariamente na vida de todos nós. E em maior ou menor grau todos nós cometemos esses julgamentos.

Claro que quando nos importamos com as pessoas e elas nos procuram para desabafar ou até mesmo quando acompanhamos a vida de alguém querido e mesmo sem a solicitação, por estarmos de fora do problema enxergamos que algo não está funcionando direito, enxergamos soluções, queremos que as pessoas resolvam suas questões, deixem seus relacionamentos furados, abandonem situações de abuso porque sabemos que é o melhor para ela. No entanto, fazemos essa avaliação baseada no que é importante para nós, dentro dos nossos valores, da nossa história de vida, que são diferentes dos valores dessa pessoa, de todas as outras pessoas. Então, o que sempre precisamos fazer é avaliar se o que julgamos ser melhor para o outro realmente é, porque na maioria das vezes, não é. É bom para nós, funciona em nossa vida, não necessariamente serve para o nosso melhor amigo. Cada um sabe os percalços que passou em seu caminho e por conta dessa história, de tudo que viveu, do que deu certo e do que não deu, as pessoas fazem as suas escolhas, cabe a nós, respeitar.

As redes sociais intensificaram muito essa forma de arrogância. A partir do momento que começamos a nos expor mais, estamos sendo automaticamente mais julgados. E isso se vê principalmente com assuntos mais polêmicos, quando acontecem catástrofes como as que vivemos na semana passada. O que se viu durante o último final de semana foi uma quantidade imensa de pessoas tendo que se justificar porque elas estavam se convalescendo mais com a tragédia em Paris que o desastre em Mariana e vice-versa. Julgamentos e mais julgamentos que não fazem o menor sentido. Não estamos participando de uma competição de qual tragédia foi mais devastadora. Cada um se solidariza com o que quiser, se uma pessoa quiser mudar a foto de perfil dela o problema é só dela. Podemos não considerar isso correto, mas ainda assim não cabe a nós julgarmos. Precisamos respeitar ao outro, a não ser que o que ele esteja fazendo te prejudique diretamente, o que obviamente não era o caso das pessoas que resolveram acrescentar as cores da bandeira da França em sua foto de perfil.

Da próxima vez que formos analisar e julgar as atitudes de alguém, podemos tentar pensar se o julgamento não está baseado em como vivemos, em que acreditamos, no que aprendemos. Temos que considerar que talvez essa pessoa não tenha tido o mesmo aprendizado, as mesmas oportunidades, ou talvez tenham tido tudo muito parecido mas optaram por trilhar caminhos diferentes e não cabe a nós dizer se está certo ou não. Respeite. Até porque, se realmente respeitássemos uns aos outros, nenhuma das duas tragédias teriam acontecido, elas poderiam ter sido evitadas. Para encerrar, deixo aqui uma frase que ouvi em um vídeo recentemente e achei muito interessante: “Incomodou, doeu? Leva para casa que é seu”.

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