A difícil arte de aceitar ajuda - Maria Fernanda Medina Guido

A difícil arte de aceitar ajuda

Todas as terças-feiras é transmitido pelo canal History Channel um programa chamado “O Sócio”, uma espécie de reality show, onde um investidor milionário, Marcus Lemonis, visita os mais variados negócios familiares pelos Estados Unidos para escolher em quais deles ele investirá seu dinheiro e se tornará sócio. A ideia é transformar esses pequenos negócios em grandes empresas que poderão lucrar milhões de dólares porque os mesmos já tem potencial, se obedecerem o plano de negócios elaborado por Marcus. No entanto, na maioria das vezes os episódios rumam para o mesmo lugar. Quando o investidor aponta o que será necessário mudar, o que pode incluir a postura dos proprietários, muitos não aceitam, passam a boicotar os passos seguintes do plano elaborado pelo investidor e o negócio geralmente é desfeito.
Isso acontece por uma série de fatores, mas principalmente porque as pessoas tem muita dificuldade em aceitar as determinações feitas, já que implicaria em assumir que a forma como estão levando seu negócio ou a forma como se portam não é a mais indicada. Envolve orgulho e vaidade além da necessidade de controle, pois muitas vezes fica claro que a tendência em controlar tudo e todos engessa os processos e atrapalha o crescimento tanto do negócio quanto dos funcionários, mas ainda sim o proprietário não consegue parar. E por não conseguir controlar o seu comportamento, que é a única coisa que deveria estar controlando, perde a oportunidade de multiplicar seus rendimentos.

Pare para analisar quantas vezes você já deve ter caído nesta armadilha. Procuramos médicos mas não obedecemos suas prescrições porque 7 dias de repouso parece exagero. Contratamos arquitetos mas damos uma “alteradinha” no projeto porque a janela não ficou boa naquela parede, pedimos auxílio mas jamais seguimos qualquer sugestão dada, afinal “ela não tem filhos, não sabe o que fala”. Consegue se reconhecer? Pois é. Fazemos isso o tempo todo.

Óbvio que existem muitos profissionais que cometem equívocos e talvez mesmo sem ter cursado quase 10 anos de Medicina você perceba um sinal de alerta naquele diagnóstico. Não estou dizendo que devemos confiar cegamente e não questionarmos nada quando um tratamento parece duvidoso, por exemplo. Estou falando sobre dar o benefício da dúvida como se diz popularmente, porque quando você submerso na situação, envolto a muitas emoções como medo, ansiedade, raiva, insegurança ou até mesmo dores físicas, sua forma de pensar sofre avarias. Sua lucidez, o seu lado racional fica abalado sem o equilíbrio psicológico necessário para a tomada de decisões. Então, se você não entende de contabilidade, aceite as sugestões de seu contador. Se sua sogra lhe aponta o que pode estar acontecendo com seu bebê mesmo ela não sendo pediatra, confie, ela criou 5 filhos e todos estão muito saudáveis. Se sua vida parece um ciclo vicioso onde as mesmas situações se repetem sem cessar, dê uma oportunidade para seu psicólogo te oferecer as ferramentas certas e com isso te ajudar a sair do lugar.

Aceitar ajuda não significa fraqueza. Tentar um outro caminho por que não? Pense nisso da próxima vez que resolver continuar neste caminho “seguro” mas que tem sido tão duro, com tantos percalços. Por que não tentar algo novo? Se permita fazer diferente, se dê o benefício da dúvida, deixe os profissionais cuidarem de você, da sua casa, dos seus negócios. Tenho certeza que você sabe bastante mas é impossível sabermos tudo sobre tudo. Aceite uma mãozinha.

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