O que eu faço agora? - Maria Fernanda Medina Guido

O que eu faço agora?

Ninguém quer receber uma notícia ruim. Ninguém deseja atravessar fases difíceis na vida. Ninguém quer sofrer. E justamente por não querermos, tentamos não pensar, evitamos falar. Como se magicamente, ao não falar pudéssemos afastar os perigos, as doenças, a morte. No entanto, obviamente, não há garantia alguma de que o silêncio vá nos salvar.

Cada um tem sua crença pessoal, algumas pessoas acreditam em destino, outros em “karma’, pagamentos de “dívidas”, castigo. Mas a grande verdade é que ao receber um diagnóstico de câncer, assim como ao perder alguém ou passarmos por um problema realmente sério na vida a primeira pergunta que fazemos costuma ser “Por que?” ou “Por que eu?”.

Por que eu” não trará nada a não ser raiva e autopiedade. Você irá repassar o que já fez ou não em vida e provavelmente chegará a resposta, “eu não mereço isso” e essa resposta não te levará a lugar algum. Ninguém merece um diagnóstico de câncer, ninguém merece passar por dolorosos tratamentos muitas vezes sem garantia de sucesso, ninguém merece perder os cabelos, a vitalidade, ninguém. A pergunta que devemos fazer não é essa. A pergunta que deve ser feita é “Para que”. “Para que a vida está me trazendo esse imenso desafio”? “O que eu preciso aprender com isso?” Porque pessoalmente tenho certeza que situações como essa são aprendizados que a vida está te enviando, por mais dolorosos que sejam.

Após um diagnóstico, não há volta, mas você pode decidir boa parte do que virá depois. O que você vai fazer com o que a vida fez com você. Essa é a saída. É a oportunidade, ainda que na marra, de repensar toda a sua vida. Você estava realmente feliz com a vida que você estava levando? Quais são as atitudes nocivas que você cometia consigo mesmo que agora poderia fazer diferente? Você guardava muita mágoa? Poupava muito as pessoas com receio de criar situações desagradáveis? Trabalhava 14 horas por dia e não tinha tempo para si mesmo? Cuidava de todos a sua volta e se deixava em segundo plano? Priorizava consumo? Comprava, comia ou bebia loucamente buscando preencher um vazio que te consumia? Talvez agora você entenda que não era o caminho. Talvez seja a vida te dando oportunidade de fazer diferente. O que você vai fazer agora?

Somente você poderá responder estas questões, mas pensando nisso listei abaixo sugestões de ações que poderão dar um conforto maior, principalmente nos dias mais difíceis:

  • Tente fazer as pazes com o passado primeiro perdoando a si mesmo. Não se culpe pelo diagnóstico, não se culpe por suas escolhas. Elas também trouxeram muitas coisas boas, e caso neste momento você não as aprove, passe a agir diferente, siga  este novo caminho e ponto final. Tente perdoar também os que te fizeram sofrer, tenha sempre em mente que as pessoas só dão aquilo que tem, muitas vezes exigimos ações e sentimentos que elas nem sequer conseguiriam dar, fazer.
  • Busque se manter no presente o quanto conseguir. Tendemos a nos refugiar no passado ou nos manter num futuro geralmente muito caótico na maioria das vezes. Quando perceber que está fazendo isso, volte ao presente. O que está acontecendo agora, neste momento? O que você está fazendo neste momento? Se concentre somente nisso, mesmo que você esteja lavando a louça. Quanto mais nos mantemos no presente mais calmos tendemos a ficar.
  • Procure trocar pensamentos autodestrutivos, autocríticos ou sabotadores por pensamentos amorosos e positivos, aprendendo a se tratar com carinho exatamente como você faria com uma pessoa importante que estivesse tendo um dia difícil;
  • Pare de usar as redes sociais para se boicotar. Em se tratando de redes sociais, a maioria das pessoas só mostra o melhor delas. Entenda essa premissa, rede social é vitrine e em vitrine só se põe o que se quer vender. Vendemos o que queremos ser, o queremos ter, o que queremos que os outros acreditem que vivemos. Então um pouquinho de bom senso e análise racional antes de praguejar aos céus vale a pena. Procure postagens e vídeos engraçados, artigos de assuntos que te interessem, páginas de pessoas que te fazem bem;
  • Procure fazer coisas que normalmente te agradam, assistir a um filme, escutar músicas animadas, tomar um sorvete, falar com um amigo engraçado, fazer exercícios físicos, brincar com seu bichinho. Mesmo que não haja motivação inicial, tente. Geralmente nos sentimos bem melhor depois de atividades prazerosas;
  • Nos dias de tratamento, ou pós-tratamento, onde o corpo tende a se baquear, descanse e procure respeitar o tempo de resposta de seu corpo. Tente manter os pensamentos bem elevados, quanto mais equilibrado emocionalmente você conseguir ficar, menos seu corpo sentirá esse benefício;

A luz no fim do túnel chama-se amor-próprio. Quando passamos a nos tratar com amor e respeito assim como tratamos as pessoas a nossa volta, por mais difícil que seja o momento, a vida tende a ficar mais leve. 

E lembre-se,todos estamos no mesmo barco, todos acordamos tendo um dia a menos, nenhum de nós sabe precisamente quanto tempo nos resta. Por isso, deixo aqui uma análise que a vida me ensinou à duras penas, quando me tirou tanta gente que eu amava:

Se você morresse hoje, ao perceber isso, fazendo uma breve análise do que você fez da sua vida, você teria ficado satisfeito? Sua vida valeu a pena? Você se esforçou o quanto pode? Você lutou pelo que acreditava ou assistiu a vida passar?

Se a resposta for não, faça algo por você agora! Ainda há tempo, independente de quanto seja. Lute, opte pelo que faz o seu coração vibrar, esse é o melhor caminho, aposte nele.

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