Sabotagem! - Maria Fernanda Medina Guido

Sabotagem!

Muita gente acredita que a fase atual de sua vida é boa mas falta alguma coisa. Falta um upgrade na carreira, ou um relacionamento estável e equilibrado, 10 kg a mais, 20 kg a menos, mais cabelos, dentes mais brancos, mais tempo livre, enfim, cada um sabe aonde o calo aperta e é por sentir que falta algo em nossas vidas que levantamos todos os dias pela manhã, afinal, o desejo é o que nos move, a vontade de conquistar o que ainda não conseguimos ou às vezes nem sabemos o que é.

Porém, se pararmos para analisar nossas vidas por uns minutinhos veremos que curiosamente andamos na contramão daquilo que desejamos e o mais estranho é que não estamos na via contrária porque nos colocaram lá, estamos porque nós mesmos escolhemos isso.

Por exemplo, muitas pessoas querem crescer profissionalmente com toda pompa e circunstância que uma alavancada na carreira traria: um aumento significativo de salário, o status de chefe, reconhecimento de todos. Pois bem, sabe o que elas fazem para conquistar seus objetivos? Nada. Elas sabem que não é no local atual que trabalham que vão conseguir isso, mas não enviam seus currículos para outras empresas, muitas vezes nem tem um currículo. Ou, elas sabem que podem crescer dentro da empresa em que trabalham, mas ao invés de mostrar serviço, cumprir suas metas, ganhar espaço, elas faltam do trabalho porque está chovendo, chegam atrasadas nas reuniões, não cumprem seus prazos, dando a impressão que nem sempre o chefe poderá contar com ela.

Por que isso acontece? Por que sabemos o que devemos fazer, por onde começar para conquistar nossos objetivos e nos empenhamos para NUNCA conquistá-los? Por que temos essa tendência? Por que nos sabotamos descaradamente 24h por dia?

Porque queremos nos proteger de frustrações. Esse processo chama-se “autossabotagem”, estudado há décadas por psicólogos e psiquiatras que através de experimentos e teorias tentam provar que salvo catástrofes naturais e raras exceções, nenhuma outra pessoa além de nós mesmos tem essa capacidade tão intensa de nos afastar do que mais queremos. A verdade é que começamos a desistir logo no início da jornada porque temos medo de tentar e falhar. Assim, é melhor trocar uma possível frustração futura, que julgamos ser maior, por uma frustração imediata, menor. E para completar o processo, além de não buscarmos o que de fato queremos, precisamos ainda buscar culpados para isso, porque obviamente a culpa não é nossa, a culpa sempre é do chefe, dos pais, da esposa, do namorado, do mundo, do mercado, do universo, do destino. Nossa criatividade flui um bocado no momento de desenvolver desculpas para justificar nossas atitudes pobres. Esta é uma das mais profundas incoerências humanas, matar aquilo que mais se deseja alcançar e manter.

E o que podemos fazer? A primeira coisa é fazer uma reflexão sobre nossos objetivos e o que estamos fazendo para nunca alcançá-los. Rapidamente vamos perceber que estamos anulando praticamente todas as nossas possibilidades simplesmente para evitar nos decepcionarmos ou decepcionarmos aos outros. É importante também depois da reflexão não entrar num processo destrutivo e ficar se culpando por ter se sabotado até agora. Esqueça a culpa. Traga para si a responsabilidade por seus atos ou pela falta de. Entenda que você é o único responsável por não ter alcançado seus objetivos e comece de verdade a lutar em prol deles. Para evoluirmos precisamos nos desapontar, nos frustrar, falhar.

Precisamos saber onde estamos errando para crescer e isso não acontecerá se ficarmos estagnados dando desculpas aos outros e a nós mesmos de porque a vida está passando e nunca alcançamos o que desejamos.

Se parecer muito difícil e é mesmo, comece devagar. Tente não se sabotar por uma manhã, depois por um dia inteiro e assim por diante, até perceber que quem realmente está no controle de sua vida é você. E quando a vontade de se sabotar for maior que a de lutar por um sonho, pense em quantas coisas legais podem acontecer quando sua meta for conquistada, em quão bem isso lhe fará. Faça uma lista de tudo o que quer e o que precisa ser feito para conseguir e lute para cumpri-la. E como eu ouvi outro dia, “Viver é para os insistentes”, insista!

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