Tudo certo como dois e dois são cinco - Maria Fernanda Medina Guido

Tudo certo como dois e dois são cinco

Na semana passada uma escritora chamada Ruth Manus que escreve para o Blog do Estadão publicou em sua página um texto chamado “A geração que encontrou o sucesso no pedido de demissão” que provocou discussões acaloradas, o que infelizmente tem se tornado comum, ao expor o seu ponto de vista sobre o que seria sucesso hoje em dia, trazendo exemplos que para muitos não condizem com a realidade da população brasileira (leia o texto AQUI). 5 dias depois, a jornalista Yasmin Gomes publicou um texto em resposta (leia o texto dela AQUI) onde aponta de maneira exaltada que a análise de Ruth é equivocada e perigosa, já que “A realidade do Brasil não é de quem pede as contas e vai viajar o mundo. Não é de quem “joga tudo pro alto” e vai vender brigadeiro.”

Acredito que ambas trazem argumentos relevantes e talvez o que eu vá dizer agora pareça como diz o ditado “chover no molhado” mas em se tratando de pontos de vista não existe certo ou errado. As pessoas precisam urgentemente parar de se ofender com o que o outro pensa sobre determinado assunto. Para mim, Ruth está analisando a situação dentro do que ela tem de referências pessoais e Yasmin também, e está tudo certo. Mas pensando em comportamento, que é o que me interessa, guardadas as devidas proporções, me agrada mais o ponto de vista da Ruth que o da Yasmin e já explico o porquê. Vale lembrar que esse é o meu ponto de vista, e se alguém não concordar está tudo bem também, não há problema nisso.

Ruth questiona se a fórmula carreira de sucesso + conta bancária recheada + glamour + poder realmente traz mais felicidade que a uma vida mais simples, autônoma, com menos dinheiro e talvez mais qualidade de vida. E isso faz sentido a meu ver. Cada um deve encontrar a sua própria fórmula, de acordo com seus próprios valores. Se dinheiro é importante, abandonar a carreira para vender coco na praia talvez não seja a melhor ideia. Mas se os objetivos e valores da pessoa estão relacionados a qualidade de vida, talvez uma carreira internacional não seja a saída. Ruth escreve:

Será que sucesso é ter dinheiro sobrando e tempo faltando ou dinheiro curto e cerveja gelada? Apartamento fantástico e colesterol alto ou casinha alugada e horta na janela? Sucesso é filho voltando de transporte escolar da melhor escola da cidade ou é filho que você busca na escolinha do bairro e pára para tomar picolé de uva com ele na padaria?”

Só você pode responder essa pergunta, ninguém mais.

Já Yasmin aponta que essa análise serve para uma minoria, visto que a maioria dos brasileiros jamais poderá pedir demissão de seus empregos para tentar a sorte em um negócio próprio por exemplo. E aí estão as inúmeras histórias de atletas medalhistas nas Olimpíadas para rebater esses argumentos. Robson Conceição, o Serginho do Vôlei e tantos outros que são de origem humilde, que a princípio conciliavam vários empregos a treinos porque não podiam se dedicar exclusivamente ao esporte e por insistirem em seus sonhos, conseguiram. A verdade é que para colocar um basta em qualquer que seja a situação que não funciona mais, para correr atrás de um sonho, é preciso muita coragem e muito amor-próprio. Abrir mão de um emprego fixo para tentar a sorte seja o cargo de vice-presidente ou de assistente requer muita coragem para ir na contramão do que a grande maioria faz, do que uma sociedade dita. E requer muito amor-próprio no sentido de que é preciso se respeitar muito, confiar em si mesmo e em seu potencial e acreditar que merece mais do que está recebendo para por um fim em tudo.

Sempre há uma saída. Sempre. Se não é possível largar o emprego, pode-se procurar outro que te desagrade menos. Se o seu sonho é abandonar a carreira para ser DJ mas neste momento você precisa do seu salário porque o plano de saúde é exorbitante, você pode começar aos finais de semana e a medida em que a situação for melhorando você abandona o que te consome. Se agora é impossível pensar em qualquer coisa do tipo, tudo bem, creio que em algum momento essa análise será possível. Sempre haverá tempo, sempre haverá uma saída. Para mim, ao contrário do que escreveu Yasmin, não são textos como o da Ruth que podem causar mais sentimento de depressão que de inspiração, mas sim a convicção de que é melhor se render e aceitar o que se tem e ponto final.

E quem sou eu para dar minha opinião sobre tudo isso? A pessoa que contrariou as estatísticas, abandonou tudo e foi vender brigadeiros. 

🙂

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